Sinal de celular apenas no cemitério
Cemitério de São Roque de Minas fica localizado na parte mais alta da cidade. Segundo empresas de telefonia, local tem 6,5 mil habitantes e cerca de mil celulares
É na gaveta do quarto que a secretária Rosiane Faria deixa o celular. O aparelho não tem defeito, mas fica guardado porque nunca toca.
"O celular não pega, não tem sinal e tem o apelido de celular de gaveta", diz ela.
A explicação técnica está na posição geográfica da cidade.
"A cidade é baixa, cercada de morro e o sinal não chega aqui", explica Laurício Antunes, técnico em telefonia.
São Roque de Minas tem 6,5 mil habitantes e cerca de mil celulares, segundo as empresas de telefonia que trabalham na região. Para usar o aparelho, os moradores têm que ir ao ponto mais alto da cidade, e no topo do morro está o cemitério, único lugar onde é possível fazer ligações.
O endereço antes deserto, hoje é um dos mais movimentados.
"No meio dos túmulos, o sinal é mais forte", diz uma moradora.
No morro, o sinal é captado pela cidade Pinhuí, cidade a 60 quilômetros de São Roque.
O guia de turismo Jean Pierre Santos admite que raramente aparecia alguém para visitar os túmulos dos parentes. Agora, vai quatro vezes por semana para saber se tem mensagens no celular.
"Se tiver mensagem no celular, retorno a ligação na hora", diz ele.
Para fazer interurbanos, o fazendeiro Donizete Leite, que tem telefone fixo, troca o conforto de casa pelo cemitério.
"De celular para celular é mais barato", justifica.
Mas a falta de sinal provoca outros transtornos na cidade turística, aos pés da Serra da Canastra.
"É o caso de ônibus que excursão que estraga, um carro que quebra. As pessoas ficam na dependência de uma carona na estrada para conseguir o socorro", diz Cláudia de Souza, agente de turismo.
"Veio só o celular, o progresso mesmo não veio", reclama outro morador da cidade.
As duas operadoras que prestam serviços de telefonia celular em São Roque de Minas informaram que não têm planos de instalar torres na cidade.
